Obs: Antes de partirmos para a próxima aventura de Amável Sarango, iremos esclarecer as dúvidas que alguns leitores nos enviaram.
Para compreendermos a primeira parte das aventuras de Sarango, que como muitos já devem ter percebido é uma parábola da crise econômica que atingiu a economia americana a partir de 2008, precisamos entender um pouco melhor de um instrumento financeiro conhecido como DERIVATIVO.
Partindo para um conceito técnico emitido pelo Ministério da Fazendo, os derivativos “são ativos financeiros que derivam, integral ou parcialmente, do valor de outro ativo financeiro ou mercadoria”. Entretanto essas definições são sempre complicadas para os leitores que ainda não estão familiarizados com o linguajar da economia. Para facilitar o entendimento sobre o comportamento dos derivativos dentro da economia e qual a sua participação na crise que teve início em 2008 iremos utilizar “As aventuras de Amável Sarango” como referência.
Quando na estória Amável decidiu anotar as dívidas em um caderno, ele estava transformando riqueza real, que eram as dívidas, em riqueza fictícia, cadernos. Em outras palavras, os bloquinhos eram um derivado, ou derivativo, das dívidas em bebida que as pessoas faziam no bar Sossegado. Os preços dos cadernos eram calculados a partir das dívidas que eles representavam, o que possibilitou que várias transações fossem feitas com aqueles papéis.
No mundo real existem vários tipos de derivativos (swap, de opção, futuros, a termo), mas não é o objetivo deste texto discutir cada um deles. O importante a perceber é que este tipo de ativo financeiro serve para proteger o valor de um determinado bem, de possíveis mudanças na economia que possam fazer variar o preço de um produto. Para simplificar vamos utilizar um exemplo.
Digamos que um produtor de mangas decida vendê-las para o exterior. Ao olhar o valor da manga em dólar ele descobre que a mesma custa US$ 1 dólar, a pergunta é, será que vale a pena produzir mais mangas para vender no estrangeiro? Inicialmente tudo irá depender da relação dólar/real. Se US$ 1 estiver valendo R$4, e o produtor gasta R$ 2 para produzir e vender uma manga, ele irá pensar que vale a pena, já que ele lucra R$ 2 por cada manga vendida. Entretanto a sua decisão não dependerá apenas disso, pois o tempo que ele gastará para produzir o seu produto pode acontecer que esta relação, dólar/real de 1 para 4, mude. Caso isso ocorra, ele poderá ter prejuízos se o dólar passar a custar menos de R$ 2. Para se proteger destas mudanças ele se utiliza dos derivativos.
1º Se o nosso produtor deseja produzir 1000 mangas, ele terá uma receita de US$ 1000, que convertido em reais dará R$ 4000 (US$ 1 = R$ 4).
2º Como seu custo de produzir estas mangas é de R$ 2 por unidade, ele espera ter R$ 2000 de lucro.
3º Para se proteger de possíveis variações no valor do dólar, o nosso produtor emite papéis (derivativos, já que eles derivam das mangas que ele quer produzir) no valor de US$ 1000, preço das suas mangas, para serem vendidos no sistema financeiro (pois existe um mercado de derivativos). Dessa forma, antes mesmo das mangas estarem nascidas, ele já pode lucrar com elas.
4º Quem comprar esses papéis poderá lucrar de diversas formas, uma delas é esperando uma variação na relação dólar/real, que caso ocorra fará com que ele lucre sem ter produzido nenhuma riqueza, por exemplo, se o dólar passar a valer R$ 5. Ou então, ele poderá lucrar especulando, que é o tema para uma próxima postagem!!
Espero que tenha conseguido esclarecer as dúvidas que me foram enviadas!!
Espero que tenha conseguido esclarecer as dúvidas que me foram enviadas!!
Entender os derivativos é de crucial importancia para compreender como a crise conseguiu ter uma repercussão - efeito contágio - muito grande nas economias desenvolvidas... e um certo efeito sobre as subdesenvolvidas!!!
ResponderExcluirMuito massa o post, to até entendendo de derivativos, com a ajuda de Sarango e de Daniel... Vou tirar onda no sermão de domingo na Comunidade de Jesus. Sempre desejei entender um pouco como funciona essa coisa da economia q dita nosso modo de ser na atualidade, iniciativas como esta possibilita leigos, como eu, a ter acesso a essas informções e bem mastigadinhas... Valeuuuuuu Daniel!!!! Por falar nisso... Na minha rua lá no Feira VI tem uns pés de manga... To vendendo papeis?? Quem vai??rssss
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