quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As aventuras de Amável Sarango - Parte I

Em uma terra não tão distante e nem tão pouco perto, o pequeno vilarejo de Entre Folhas vivia perdida no tempo, era como se o deus Chronos se esquecesse de conduzir a rotação dos céus e do universo por aquelas bandas. O lugar se resumia a uma praça, um pequeno comércio ao redor da praça e algumas centenas de casinhas. O vilarejo se estendia até o rio de Arabites, que havia sido batizado com este nome, por causa do fundador do vilarejo o senhor Arranjo Reticinio Anfinio Balurde de Ingreto do Espírito Santo, o nome do rio fora dado com as iniciais do seu nome.

Uma das poucas diversões do lugar era o bar Sossegado do senhor Alfredo Prazeroso, um lugar simples, como tudo que se via por ali, mas que era a única forma dos habitantes de Entre Folhas fugirem da monotonia que parecia forçar a vida a caminhar na direção do passado. Seu Prazeroso não admitia vender nenhuma cachaça ou bebida qualquer, sem receber o seu devido pagamento, era mesquinho e desconfiava da sua própria sombra, mas depois que adoeceu e seu filho Amável Sarango assumiu o negócio, o bar passou a vender “fiado” os seus produtos, isto é, sem receber o pagamento no momento da venda, mas isso só era feito para os clientes mais antigos e respeitados, e toda a vendagem era anotada em um bloquinho chamado “Clientes Antigos.”

Aproveitando o ocorrido ao senhor Prazeroso, os amigos de Sarango passaram a freqüentar o lugar, e aproveitavam a ausência dele para se embrigarem a hora e o momento que quisessem mesmo que estivessem sem dinheiro, tendo as suas dívidas anotadas em outro caderno colocado com o nome de “Amigos de Amável”. O bar passou a ser freqüentado por muitas pessoas que se passavam por amigos de Sarango ou por clientes antigos, apenas para poderem comprar sem ter que pagar de imediato. Sossegado agora vivia sempre movimentado e os negócios cresceram tornando o bar conhecido por toda a região.

Certo dia, pensando em ampliar ainda mais o bar Sossegado, Amável Sarango foi até a marcenaria do senhor Anatalino com o objetivo de encomendar algumas mesas e cadeiras. Por ser grande amigo do velho e mesquinho Alfredo Prazeroso, ele aceitou postergar o pagamento, mas exigiu de Sarango alguma coisa que garantisse o pagamento, segundo ele era apenas para ter o controle. Foi então que Sarango se lembrou dos cadernos que ele utilizava para anotar os devedores e que neste tempo haviam se multiplicado, já havia os cadernos dos “Amigos do Padre”, “Trabalhadores da Mina”, “Mulheres do Bananal”, e dezenas de outros. Como meio de comprar o que precisava ele teve a ideia de utilizar alguns dos cadernos como promessa de pagamento, já que o valor era capaz de cobrir aquela dívida e ainda sobrava, diferença esta que seria utilizada na negociação como remuneração pelo ato de confiança do senhor Anatalino.

Certo dia seu Anatalino pensou em utilizar aqueles cadernos que havia recebido de pagamento do bar Sossegado, para pagar a remessa de madeira que ele iria receber e assim o fez, prometendo que assim que recebesse o pagamento quitaria o seu débito. A madeireira por sua vez utilizou os cadernos para pagar os seus funcionários, e assim os cadernos com a anotação das dívidas do bar Sossegado alcançaram o mundo e viajaram até os lugares mais distantes. Outros comerciantes passaram a fazer o mesmo e quando recebiam os cadernos de Sarango misturavam com os seus cadernos, mas utilizando-os como se fossem referentes apenas ao Sossegado, já que o bar neste tempo já havia se tornado conhecido nacionalmente e até mesmo em outros países. O vilarejo de Entre Folhas ia se tornando famosa e o bar Sossegado seu principal ponto turístico.

Amável Sarango dirigia os negócios com muita eficiência e as coisas iam prosperando. Quando não recebia alguns dos pagamentos dos cadernos não tinha problema, já que aqueles que pagavam cobriam a dívida dos outros, entretanto alguns acontecimentos muito estranhos passaram a acontecer no vilarejo de Entre Folhas que acabou por mudar radicalmente a sua situação. A mina que havia dado emprego durante mais de dois séculos foi fechada, com isso o caderno dos “Trabalhadores da Mina” não seriam pagos. Além disso, haviam os cadernos chamados de “Caloteiros” que tinham as dívidas de forasteiros, desempregados, entre outras pessoas não tão confiáveis. Com a falta de pagamentos dos cadernos, Amável Sarango não teve como cobrir as dívidas que ele havia feito. A crise enfrentada pelo bar Sossegado acabou atingindo outros comércios que haviam recebido como pagamento os cadernos, e se estendeu até outros países.

O mundo entrou em um colapso ainda maior, tudo porque em meio à falta de pagamento dos cadernos o senhor Alfredo Prazeroso melhorou da sua doença e vendo o tamanho da dívida que seu filho havia feito mandou fechar o bar dizendo: “se ninguém me paga, eu também não pagarei ninguém”. 

2 comentários:

  1. Senti um q de Garcia Marques! rs
    Muito bom!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom meu líder... Assim fica divertido e fácil aprender economia... Gostei dmais... Continua escrevendo q eu não entendo nada dessas crises mundiai e quero entender... Nào para de escrever!! Xero!!!

    ResponderExcluir